quinta-feira, 26 de maio de 2011

Teatro do Oprimido - Roteiro


Ato I – Cena I
José e Alice aparecem sentados, um ao lado do outro. Cada um segura sua placa.

Placa da Alice:
Eu sofro bullying

Placa do José:
Eu sofro bullying

Eles viram suas placas:

Placa da Alice:
Porque não posso falar


Placa do José:
Porque não consigo aprender tão
rápido quanto meus colegas

Eles se levantam e saem de cena.

Cena II

Os alunos estão sentados em suas carteiras, conversando e rindo. A aluna nova entra, envergonhada.
Manuela: olha, uma aluna nova!
Matheus: aí, menina nova. Qual seu nome?
A menina tenta por gestos, explicar que é muda.
Roberta: ele perguntou seu nome, não vai responder?
Alice tenta explicar novamente que não consegue responder, mas então desiste e se senta. José observa a cena, mas se mostra indiferente e não interfere.
Mariana: nossa, que idiota...
(risadas)
(o professor entra)
Professor: Bom dia, meu nome é Paulo. A aula de hoje é sobre bullying.
(os alunos resmungam)
Manuela: professor, tem uma aluna nova hoje.
(Thalita cochicha para um colega)
*E ela é muito tonta*
Professor: Silêncio! Vocês me respeitem. Não estão aqui para se divertir, e sim para aprender.
(pausa)
Professor (abrindo seu livro): Hoje vou falar sobre bullying
Rafael: ô professor, mas aqui não tem disso não.
(O professor olha bravo, e continua).
Professor: O bullying é um termo proveniente da língua inglesa, que quer dizer tiranizar. É usado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo indefeso. Pode ocorrer no ambiente escolar, de trabalho ou até mesmo em casa.
Professor: Alguma pergunta?
(silêncio)
Professor: Ótimo, porque eu quero que vocês copiem este texto no caderno, e façam uma pesquisa e uma redação sobre o tema, em dupla. Vale nota, então façam direito. Me entreguem semana que vem, e não escrevam nada que eu não queira ler.
Professor: Você (aponta para José) copie este texto na lousa. Rápido, e com qualidade.
José pega o livro do professor, e vai até a lousa. Começa a escrever, bem lentamente. Erra algumas letras. Apaga tudo e começa de novo. O professor, já sem paciência, pega o livro da sua mão.
Professor: Não quero ignorantes aqui! Mais concentração da próxima vez. Criança que não aprende é criança folgada! Vá se sentar.
(A sala ri)
Os alunos formam as duplas, e Alice e José ficam sozinhos. Um olha para o outro e eles se sentam juntos. Ela começa a se comunicar com ele, escrevendo no caderno. Os dois começam uma amizade.
Mariana ataca um bilhete em Alice. Ela lê e mostra para o público.
José: Não liga não. Elas vão parar quando entrar outro aluno na classe.
Alice pega um papel, e escreve: “E quando isso vai parar?”.
José: Não vai...
O sinal bate, José se despede de Alice, e sai. Alice se levanta para ir mostrar ao professor o bilhete, e os alunos formam uma roda em volta dela. O professor continua sentado, escrevendo. Começam a dizer apelidos. Eles saem, e ela, de cabeça baixa, vai embora.

Cena III
A narradora entra em cena:
Narradora: Os dias vão passando, e a situação piora aos poucos. Os adolescentes, apesar de chateados e com medo, não dizem nada a seus pais. Os professores não se interessam pelo problema. Na verdade, alguns agressores também sofrem bullying, como é o caso de Rafael, na nossa história.

Cena IV
Rafael está sentado, tentando estudar. Seus pais (Roberta e Arthur) discutem, ele está no meio. O pai sai bravo. A mãe então começa a brigar com Rafael, e ele fica em silêncio. Ela sai.

Cena V
Todos estão sentados, brincando e rindo, e Roberta ataca um papel em Alice, e ela lê, e depois o mostra para a plateia.
O Professor se levanta.
Professor: Eu corrigi os trabalhos em dupla sobre bullying. Os únicos que tiraram uma nota aceitável foram Alice e José. Vamos ver, no próximo trabalho, quero só notas dez. Estudem, vocês estão jogando o futuro fora. Façam o que eu mando, e com qualidade.
Ele passa entregando as redações.
O sinal toca, e o professor vai embora. Alice se levanta, e os alunos fazem um círculo em volta dela, dessa vez José tenta interferir.
José: Para! Deixa ela em paz, não fez nada pra vocês.
Roberta se aproxima, José tenta tirar Alice da roda, e Rafael e Matheus o puxam para trás. Ele sai correndo pela porta.
Mariana segura Heloísa e Roberta fica na posição para dar um soco.
Nesse momento, a narradora para a cena.
Narradora: Para.
(os atores congelam)
Narradora: Essa situação poderia ter sido evitada. Esse é o tipo mais grave de bullying. E tudo começou com apelidinhos, e foi aumentando. Ninguém quis impedir ou ajudar. É esse é o resultado.
Narradora pergunta para alguns dos expectadores o que eles acham que vai acontecer, e o que eles fariam no lugar da vítima e o que vai acontecer com os agressores.
Narradora: agora, vamos ver o desfecho da nossa história.
Narradora sai da cena, e os atores voltam a se mover.
Alguns segundo depois, Vanessa e Gabriela que estão na plateia, interrompem o teatro mais uma vez.
Gabriela: Para!
As duas se levantam.
Vanessa: Isso não deveria ser assim.
Gabriela: É, e pensar que se alguém tivesse feito alguma coisa antes...
Vanessa: Nós não podemos ser expectadores do bullying, temos que agir. Sabe por quê?
Gabriela: É porque...
(Ela muda Alice e Roberta de posição)
Gabriela: A vítima de hoje pode se tornar o agressor de amanhã.
(Vanessa coloca Manuela prestes a dar um soco em Mariana)
Vanessa: E o alvo do bullying também pode mudar, de uma hora para outra.
(Gabriela puxa Alice que fica de cabeça baixa)
Gabriela: É comum que as vítimas também se tornem pessoas depressivas.
Vanessa: O bullying é a terceira maior causa de suicídios no mundo.
(Os atores voltam na posição de antes)
Gabriela: É por isso que o bullying tem que acabar, antes que chegue a esse ponto.
Vanessa: É, mas agora, não dá tempo de fazer mais nada. Vamos ver o fim da história.
(Se sentam)
A cena descongela e entram o Diretor Rogério e José.
Diretor: Muito bonito! Agressão é contra o regulamento da escola. Todos vão para suas carteiras, imediatamente!
(todos se sentam)
Diretor: Já estou avisando! Parem de implicar com a aluna nova. Não há bullying nesta escola. Rafael, Matheus, Manuela, Roberta e Mariana. Já para a minha sala, vocês conhecem o caminho.
(O Diretor sai de cena)
Alice sorri para José.
Eles saem de cena.

Cena VI
Narradora:
Na semana seguinte...
Entram José e Alice. Eles se sentam. Cada um tem uma placa.

Placa da Alice: Pela primeira vez, a escola se tornou um lugar legal e tranquilo. E ninguém nos incomodou mais...

Placa do José: ...Por quatro dias. Nossos colegas de sala não estão mais suspensos, e agora, nos odeiam ainda mais.

Eles viram as placas

Placa da Alice:
Diga não ao bullying

Placa do José:
Porque o próximo pode ser você

Eles saem de cena, e começam os vídeos/relatos